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Parada da diversidade em Petrolina

terça-feira, 27 de setembro de 2011

A parada da diversidade em Petrolina traz consigo a marca da alegria e do respeito. O que vimos foi uma multidão que, independente da orientação sexual, celebrava o amor. Esse amor se exprimia de várias formas. Desde o beijo ou carinho dos casais, passando pela alegria das drags, as mães levando os filhos para ver a parada, as cofraternizações de amigos, até na senhora que foi levada pelos netos adolescentes pra ver de perto toda a forma de amor.
A segunda edição do evento coloriu as ruas do centro e deixou pra traz o ranço do preconceito comum em todo país e fortalecido aqui pelo aspecto interiorano. Com isso não quero dizer que findaram-se as ofenças gratuitas e o desamor daqueles que temem o diferente, que se sentem intimidaos por tal. No entanto percebo um avanço significativo no campo do debate sério, à luz da razão. No campo do debate de gênero e sexualidade as mulheres já avançaram bastante em institucionalizar políticas públicas e garantir uma legislação que ampare suas demandas, enquanto que os homoafetivos ainda brigam por garantir o mínimo de respeito e de direitos que deveriam ser garantidos num estado laico.
A pretensão de uma suposta supererioridade heterosexual cai por terra diante do evento vivenciado na cidade. Uma celebração composta em grande parte por heteros que compreendiam o valor do respeito ao direito do próximo. Uma caminhada pela paz e em paz.
Em tempos onde a igreja católica reafirma o atraso com o recente discurso medieval do papa onde condena a diversidade em troca de dogmas já superados até pelo senso comum, esse encontro é vital pra reascender a chama da igualdade de direitos mesmo entre os desiguais e reafirmar Milton Nascimento quando diz que: "Qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor vale amar... "

E a mulher criou o pecado...

sábado, 10 de janeiro de 2009

Bom, digam o que disserem, não posso negar: Eu ADORO TV. Também adoro livros, cinema, boas conversas regadas a bons vinhos, nascer e pôr-do-sol e beijo na boca, no entanto, a danada da televisão acaba sempre ocupando um bom espaço dentre os meios de acesso a informação que utilizo. E um detalhe importante: eu assisto à TUDO, o que inclui, obviamente, novelas.

Acompanhando a onda global do momento, assisto desde o princípio a novela das 21h (com exceção as sextas e sábados, que são dias muito complicados...). A principio estive absorta pela trama central, tentando descobrir o diferencial desta para a infinidade de outras que vemos ou revemos através da remodelagem dos enredos das anteriores, porém, paulatinamente fui sendo direcionada a um triângulo amoroso um tanto o quanto despropositado. No inicio da trama a fictícia cidade de Triunfo desfrutava de uma primeira-dama irrepreensível, apaixonadíssima pelo marido e que nutria um certo desconforto com relação ao melhor amigo deste. Pouco tempo depois descobre-se que o motivo do desconforto seria a atração sentida por ela com relação ao amigo do marido, o que seria altamente compreensível, uma vez que se trata de Malvino Salvador, porém, devo confessar que eu, criatura monogâmica convicta, achei um absurdo, grotesco, e esperei ansiosa pelo desfecho da história. Acompanhando até ontem, quando se desenhou o resultado desta odisséia, eis que me surge o saldo da equação:

Prefeito+primeira-dama + melhor amigo = Prefeito feliz em outro triângulo+ amigo feliz no casamento perfeito - primeira-dama morta.

Ora senhores, paremos um pouco.

Essa não é uma discussão novelística, fictícia, trivial. ESSA É UMA DISCUSSÃO ÉTICA!!!

Todos os setores da sociedade são pautados por padrões éticos. São essas norminhas, que não se mantém escritas em nenhum "livro de ouro da ética" que nos tornam aptos à conviver. É o respeito ao espaço e às verdades de cada um que faz com que possamos viver nessa selva sem que, para isso, nos devoremos.

Nosso primeiro embate ético, na questão, aparece quando avaliamos a ética amorosa e das relações. Ora, as relações podem seguir os mais diversificados padrões, contando com um ou mais membros, no entanto, é necessário se observar alguns pontos importantes como a lealdade aos padrões estabelecidos entre membros. Se eu namoro e defino regras abertas para esse relacionamento, elas devem ser seguidas por ambos, a menos que haja um mútuo consentimento para que assim não o seja. O mesmo vale para as regras e relações de amizade. A lealdade difere do sentido de fidelidade, uma vez que a lealdade estabelece como princípio o uso da verdade e a fidelidade o fato de não trair-se ninguém. E, convenhamos, o conceito de traição é algo maleável, geralmente negociado dentro da ética embutida em cada relação.

Ao partirmos daqui, percebemos que as traições são vias de mão dupla. O personagem traído na história foi DUPLAMENTE traído. Ele tinha duas relações distintas cujos códigos éticos foram quebrados. De quem é a culpa? Da vida, do destino ou dos outro dois personagens? Cada um pode escolher, porém atribuí-la a somente um deles (a esposa) é, no mínimo, um equívoco inominável.

O segundo questionamento vem na ação após o acesso à verdade. Eu concordo plenamente que traição é algo de trato difícil e é exatamente por isso que exige bom senso.

Pré-argumentando, cabe-me lembrar que depois da passagem de alguns períodos históricos como a licenciosa era feudal, por exemplo, a violência, assuma a forma que for, é criminosa. A capacidade de agir racionalmente é o que nos difere, homens e mulheres, dos hominídeos que povoavam a terra nos tempos pré-históricos, onde reinava a barbárie. Sendo esses argumentos insuficientes, relembro o fato de legítima defesa da honra ser uma prerrogativa legal superada, felizmente, nesse país. O conceito de honra em relações onde as mulheres precisam manter-se monogâmicas e a sociedade exige do homem a virilidade que extrapole as paredes da casa e as convenções do matrimônio por ela mesmo inventadas é, no mínimo, algo a ser minuciosamente avaliado, impossibilitando, portanto, seu uso como subterfúgio constitucional. Contando ainda que se tenham apresentados motivos insuficientes, numa sociedade que sonham em ser moderna, dinâmica, a idéia do renivelamento dos sexos no protagonismo da mesma é imprescindível. O uso da mulher, derivado do advento da propriedade privada, como mero instrumento reprodutivo e, portanto, parte do patrimônio masculino, já foi superado historicamente.

Diante de toda essa argumentação me respondam: O que justifica a maior emissora do país colocar ao ar uma cena de VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER, em praça pública e o fazer como se fosse uma espécie de justiça, mesmo tendo veiculado (em termos) um caso de tal violência com outros personagens que indignou o país. Onde está a coerência???

Por último, queria lembrar que preconceito não é algo novo. Desde a bíblia Eva é a responsável pelo pecado. No entanto anos de história esqueceram de contar que Adão também comeu a maçã, e Eva não tinha forças para coagi-lo a tal. Toda ação gera reação, é fato, no entanto conseguimos assistir, passivamente, a invenção do estupro masculino, onde a mulher, ardilosa como sempre, violentou o pobre homem indefeso.

Caríssimos, a primeira-dama morreu, foi punida exemplarmente, morte às bruxas, cinquenta chibatadas no lombo e fogueira à elas. Espancamento, violência psicológica, privação do acesso aos bens comuns da união, tentativa de estupro e o final conciliador dos homens foram suficientes para que o autor expurgasse o pecado, nada original, de ser a responsável pela "ruína da vida dos homens". No entanto o amigo está vivo, feliz, novamente às boas com o prefeito, agressor impune, que, agora, engata uma nova relação à três. Serão todos felizes ao fim da trama, talvez a primeira filha do amigo leve o nome da primeira-dama e o prefeito vire o padrinho. E nós, telespectadores, saímos desta mais imbuídos do sentido arcaico de que o homem tem que ser o centro do universo e que, como o amigo, pode ser perdoado por todos, afinal, cumpriu sua obrigação social ao ser desleal com o outro, e, portanto, não lhe cabe ônus nem ajuste de saldo devedor na questão.


No entanto, a estória termina, mas, em minha cabeça ainda há uma voz ecoando, acompanhada da ressaca moral de toda uma sociedade conivente com esses absurdos, que me repete todos os dias: "Não se esqueça, a culpa é da mulher, afinal, foi ela quem inventou o pecado..."