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Os versos que te fiz

domingo, 18 de abril de 2010

Bloguinho abandonado voltando a ser cuidado... Segue um texto da Incrível Florbela Espanca

Os versos que te fiz

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem para te dizer!

São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim para te oferecer

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas,meu Amor,eu não tos digo ainda.
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz

Amo-te tanto!E nunca te beijei...
E nesse beijo,Amor,que eu não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz

segunda-feira, 1 de março de 2010

"...há impossibilidade de ser além do que se é - no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio, sou mais do que eu, quase normalmente - tenho um corpo e tudo que eu fizer é continuação de meu começo...... a única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais.
(...)
Não entendo.
Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: -quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

Clarisse Linspector

Para Viver Um Grande Amor

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Bem, e o poema do Vinícius???
O poema serve a outro propósito, o de recriar o novo. o poema é um desejo universal: VIVER UM GRANDE AMOR!
Só que até nisso é diferente. O amor que ele propõe não é aquele clássico, novelístico, quase inatingível. É o amor cotidiano, com beijos na chuva, passeios em dias de sol, dormir de conchinha, tocar os pés nos do outro, sorrir da cara amassada, fingir que a comida salgada está ótima, enfim, amar simplesmente, já que a verdade é que é no simples que reside a felicidade...


Para Viver Um Grande Amor
Vinicius de Moraes

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.

TV, Internet e Machado de Assis

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Assim como vários estudantes do Brasil, tive acesso à Machado de Assis através da escola.
Lembro-me que, à época do meu encontro com Machado, eu devo ter sido uma das poucas pessoas da turma que gostaram da leitura. O livro? Dom Casmurro, claro!
Parte dos meus colegas não entendiam como iriam fazer uma ficha de leitura de um livro sem final. Os meninos já fuzilavam Capitu de cara. Traidora, era o veredito!
As meninas, mais condescendentes, achavam que não, que ela era vítima do ciúme do marido.
Ainda hoje, ao chagar ao trabalho, me deparei com uma exposição escolar sobre Machado e sua obra. Como todo evento estudantil haviam muito burburinho, adolescentes correndo aos berros com seus olhares fugindo em namoros discretos (outros nem tanto).
Toda essa introdução foi para lembrar que como boa parte dos brasileiros, estou acompanhando a série inspirada no livro e, devo confessar, ADORANDO!
Achei simplesmente fascinante a linguagem utilizada pra recontar a história. Rápida, sagaz, viva!!
Acho que, no fundo, a história retrata grande parte dos romances que estão por aí, passeando em nosso cotidiano. O encantamento, a luta para viver feliz para sempre, a desconfiaça de que o outro, tão infinitamente fantástico, está sempre além do que merecemos e, portanto, vai acabar encontrando outra pessoa, o ciúme, as dúvidas...
Parece engraçado como temos sempre o hábito de repetir as mesmas histórias, pouco menos dramáticas, claro, no entanto sob a mesma estrutura: Encantamento, veneração, luta por felicidade, ciúmes. Quem de nós nunca viu, ao seu redor, uma história assim, heim?

Voltando à série, de tudo o que tenho visto, duas coisas me chamaram a atenção. Uma delas foi a música tema de Bentinho e Capitu, a sonoridade arrastada, meio MPB meio "Rock medieval", a introdução levíssima. Cheguei a achar, durante as chamadas da série, que seria uma daquelas incurssões de Caetano no Inglês...
A outra coisa foi a atriz, a Letícia Persiles. Uma coisa tem que ser reconhecida: Os olhos da garota parecem que saltaram da página do livro para o mundo real. Sem contar com o excelente trabalho de corpo que ela apresenta em cena. Não sou atriz, mas desconfio que numa obra tão "pesada" como essa (conjunturalmente falando), retratada de forma tão teatralizada, corre-se o risco de tornar-se meio caricata. E caricatura de uma personagem como a Capitu chega à beirar a heresia.
Busquinhas rápidas na net e duas gratíssimas surpresas: Beirut e Manacá.
O primeiro, um grupo americano responsável pela deliciosa Elephant Guns, tema da série. Altamente apreciados na net, tenho o desmérito de reconhecer minha total ignorância sobre a sua existência, bem como a do segundo, um quarteto carioca que tem a Letícia como vocalista. A banda tem um som marcante, uma espécie de rock misturado com música regional, bem ao estilo do Movimento Armorial do Ariano Suassuna. O som dos caras é tão bacana que até parece Pernambucano! (desculpem, não resisti...)
Tenho me esbaldado no My Space esses dias então, dá pra imaginar a felicidade que é ter acesso a tanta coisa bacana que a mídia costuma não divulgar para os reles mortais. No entanto, dessa vez, mordo a lingua. Sabe-se lá quanto tempo eu levaria para ouvir esses sons se não fosse a série? Milênios...
É, caríssimos, Televisão também é cultura, não???

LINKS:

Beirut
http://www.myspace.com/beruit