O Inesperado

domingo, 23 de outubro de 2011

"Vai que me espera com boas notícias o inesperado"
 Adriana Calcanhoto
Eu sou péssima pra lidar com o inesperado.
O inesperado sempre estraga tudo.
Não chego a ser neurótica, planejar os mínimos detalhes, me irritar com pequenas mudanças. É o grande inesperado que me aborrece, aquele que desfaz as boas coisas da vida.
Logo antes do meu aniversário passei alguns dias acalentando o sonho de viajar. Seria a primeira vez que o faria, nessa época, para meu deleite pessoal. Já o havia feito outras 2 vezes, ambas pela necessidade da militância.
Dessa vez não, eu ia pra um lugar bacana, com gente bacana, tomar vinho, banho de cachoeira e dormir sob as estrelas e à luz da lua cheia. 
Sabe lá o que é isso???
Não? Nem eu...
Pois bem, lá vem o tal inesperado, sempre traiçoeiro, estraga tudo!
A tal da militância me faz ter que ir à Recife, sem cachoeira, só chuva, pra reuniões e assembléias sem fim. Aqueles que me conhecem podem avaliar a má vontade com a qual me pus a caminho. Toda e qualquer programação seria horrível, eu queria que fosse, era essa programação que me impedia de estar em outro lugar.
Qual nada! Fui a duas festas e nelas tive a rara oporrtunidade de ver gente que compartilha a dor e a delícia de ser o que é e, ainda sim, é feliz. Conhecí pessoas incríveis, ví coisas impublicáveis, estreitei amizades valiosas e, de repente, me surpreendi me divertindo.
Aquilo me soou tão estranho que parei e pensei um pouco: Peraí, as cachoeiras, pessoas, vinhos e lua continuaram lá.
Por mais que aquilo me fizesse bem (e certamente faria), o fato de não ter dado certo não tem que, necessariamente significar o fim da festa.
Viver não é uma rota cartesiana, viver é parte de uma aventura, saber receber o novo ajuda a facilitar a vida.
O novo pode ser bom ao seu modo e nos fazer bem também.
Essa é mais uma das lições dos 28 anos. Não que eu não já tivesse me deparado com ela antes, mas agora ela é plenamente absorvida por mim. Faz parte do plano serenidade que eu venho fazendo.Tenho desejado muita clareza e serenidade, discernir joio de trigo, estabelecer meu lugar no espaço e, a partir daí, poder exercer plenamente o que eu sou, o que me move, o que me faz feliz.
Quanto a viagem, ainda a acalento. Sei que não será a mesma coisa, posso não dormir à luz da lua cheia, as pessoas podem estar mais mobilizadas em cuidar de suas próprias vidas, mas, no dia em que ela vier, se ela vier, será muito bem vinda e me trará alegrias, mesmo que sejam pequenas gotas.

Vamos à vida. Que venha o novo!

Capitães da Areia

Essa semana tive o prazer de voltar ao cinema pra assistir ao lindo filme de Cecília Amado, Capitães da Areia. 
O filme é baseado no livro homônimo de seu avô, o sempre imortal Jorge Amado.
Devo começar já dizendo que super recomendo. 
Uma das primeiras cenas é a de Vida Boa com uma baiana do acarajé, onde, depois de alguns gracejos, somos brindados com um só podia ser da Bahia. Capitães é assim, só podia ser da Bahia.
O filme se passa na Salvador da década de 30, mas bem que poderia se passar nos dias atuais. Trata de um grupo de garotos que ora oscila encena a maturidade precoce da vida nas ruas, ora revela seu lado infantil nas brincadeiras entre sí. Um forte exemplo disso se dá no tocante a prática da capoeira, esporte que se confunde entre a brincadeira dos meninos e a arma para se livrar da polícia ou resolver suas questões com outros grupos de garotos.
O chefe do grupo é o famoso Pedro Bala, O guardião das regras do trapiche, aquele que por mais que cometa delitos jamais poderia ser o anti-herói. Pedro é uma espécie de lider e pai, responsável por proteger todos os garotos de rua, como aparece num dos diálogos finais do filme. Ao seu lado, como uma espécie de conselheiro, Professor, aquele que entende das letras e que, sem saber, costura toda a trama. É por meio de Professor que Bala conhece Dora, uma menina que mesmo com pouca idade demonstra muita firmeza e é, junto com seu Pedro, responsável pelos mais belos momentos do filme.

Fico na dúvida se Capitães é uma história de amor ou de luta. Aliás, nem fico, posto que, devido ao desenrolar da história (que eu não pretendo contar pra não estragar a surpresa alheia), percebemos que o que fica é a história de Pedro Bala, malandro, ladrão, no entanto fiel seguidor de um código de conduta tão firme que poria muitos cidadãos ilibados no chinelo. Esses capitães são forjados pela luta pela sobrevivência, fato evidente na cena em que Bala afirma não serem filhos de chocadeira ou na que Sem Pernas diz que não tem saudades de apanhar dos pais.
O que fica, amigos, é uma história forte, linda, de um menino que virou um capitão de um barco de meninos-homens, um Peter Pan com seus meninos perdidos, sem o glamour da disney, só com a dura realidade das ruas e muitos sonhos para acalentar.
Um conselho: Assistam e se deixem emocionar...



sábado, 22 de outubro de 2011

Outro dia estava ouvindo Seu Jorge. Gosto muito de Seu jorge, acho que tem uma voz super marcante e um repertório muito maneiro. Sinceramente não sei fazer uma critica apurada sobre ele, mas tem umas músicas que, se tocam eu fico, automaticamente paralisada. Tem umas 2 músicas dele que figurariam, fácil, entre as minhas10 mais. Tá, exagero, mas entre as 15 mais com certeza! Resolvi fazer um top 5 de músicas dele. Segue...

1. Seu olhar
Top das tops. Linda demais. Acho essa letra do c@#$@%&*, com o perdão da má palavra. Viajo em cada frase.

2. Cuidar de mim
Por uma razão qualquer eu sempre me arrepio ouvindo essa música, não sei o motivo, mas se me toca, é boa.

3. São Gonça
Essa é a Música de Gizélia. Traz um monte de memórias sentimentais.

4. Tive razão
Gosto dessa música só pela introdução, sem mais...

5. Quem não quer sou eu
Tenho ouvido um bocado, acho super melodiosa e com uma letra bacana...

Fiquem com o vídeo de Seu olhar pois Temos rotas a seguir, podemos ir daqui pra o mundo...



Por que eu acredito...

"Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo, prefiro acreditar no mundo do meu jeito."
Renato Russo


Gostaria de dizer que sim
Eu acredito na felicidade
Eu acredito em gente de bem
Eu acredito em política e em pensamento positivo
E acredito que todos podem mudar, de algum jeito, o mundo.
Acredito que as manhãs da primavera são as mais bonitas do ano
Que o pôr do sol existe pra nos mostrar quão grandiosa é a natureza
Que um banho de rio cura tudo
Que a maldade humana será revertida contra aqueles que a praticam
Que minha imperfeição servirá como norteadora daquilo que eu preciso melhorar
Que as ilusões, assim como os sonhos, nos ajudam a moldar o que seremos no futuro.
Tenho me recusado a não acreditar, a me prender no que há de pior.
Acredito que para cada pessoa ruim, haverão tantas outras melhores que tornarão nossas vidas mais bonitas
Sei que o bom humor é uma das coisas mais admiráveis
Que saber agradecer um novo dia é incrível
Que é nas coisas mais simples que reside a beleza
Tenho fé no homem, nas gentes, na capacidade transformadora do amor e da boa vontade.
Me recuso a crer que o mal possa vencer
Sobretudo tenho fé que a minha fé no mundo me ajude sempre a ser mais forte, superar as angústias, ver sempre o nascer e o pôr do sol, ter a felicidade infantil de tomar banho de chuva e não me deixar abater.
Eu irei sempre além...
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Para Paloma, minha querida Parellita, pra que ela, eu e todo mundo não nos esqueçamos que a fé nas coisas e pessoas tem um poder transformador.

Relíquias sentimentais

quinta-feira, 6 de outubro de 2011


Por um motivo qualquer dei pra repensar o mundo agora. Logo eu, ser extremamente falho...
Deve ser o tal do inferno astral. Eu não sou desse povo viciado em astrologia que se chova ou faça sol a culpa vai ser do signo. Também não ignoro tudo. Tenho uma vastidão de amigas todas do mesmo signo, completamente diferentes na intensidade, mas com algo sempre em comum.
No entanto isso de inferno astral me pega, é impressionante. É uma montanha russa. Vou do mais radiante bom humor a mais profunda melancolia em fração de segundos. E a tal hipersensibilidade? Um caos...
Mas voltando ao centro da questão, nesse período imediatamente anterior ao meu aniversário fico pensativa. Reavalio o ano, toda a minha vida e aguço minha observação das coisas a minha volta. Parte disso, e otras cositas más, me fizeram escrever o último post e me dar um desejo imenso de escrever esse.
Essa semana eu recebi meu primeiro presente desse aniversário, essa caixinha aí em cima.
Quem me conhece bem sabe que eu me afeiçoo pelas coisas. Um monte de gente vai dizer, que louca, se prende ao material, mas não é isso, absolutamente. 
Eu sou extremamente carente de gente e de afeto (Admito!). Cada momento bom me dá automaticamente o desejo de prendê-lo pra que sempre que eu precise eu vá lá e cate de volta pra aquecer um pouco o coração. Assim sendo vinculo tudo a música, como já disse, mas tenho a necessidade da materialidade das coisas. Tenho no meu quarto um acervo de pequenas relíquias inestimável. O primeiro bilhete do cinema, da primeira viagem sem meus pais, os cartões postais, o poema num guardanapo, o desenho da família que fiz na EMBRAPA e no IBGE, a primeira agenda, a letra da música preferida do primeiro paquera, o primeiro crachá de congresso, tudo!
Lembro até hoje do primeiro presente de aniversário ao qual eu me apeguei. Lembro que tinha 4 anos (é, eu lembro) e ganhei um bambolê, que passei dias só brincando com ele. No entanto o que guardei desse aniversário foi a velinha que mantinha guardada até 2 anos atrás. Aquele aniversário minha madrinha fez meu bolo e como eu sempre quis saber tudo, ela me disse que era de outra criança. Fiquei tão feliz quando vi que era pra mim. Como viemos embora, aquela velinha era uma parte dela comigo.
Todos os presentes que mais me senti bem em dar foram aqueles que eu mesma fiz. O valor financeiro é quase nenhum mas me fizeram mais plena. Junto a cada pincelada, costura, cola ou traço ia um pouco de cada lembrança doce que eu tinha com aquela pessoa. 
Quantas vezes a gente fica pensando no que queria ter, em quanto de dinheiro precisa gastar, tudo bobagem. 
Uilma, a amiga que me deu a caixinha (Muito obrigada, mais uma vez), costuma dizer que nós não temos dinheiro mas que, ao nosso modo somos muito felizes. Como quase sempre, ela está certa. Ontem estava com Aninha em casa e fomos ver as aberturas dos desenhos animados que eu assistia. Só a graça da descoberta de que eu assistia aos Smurfs "dela" quando eu era pequena já valeram a pena. 
É assim, cada segundo, pequeno gesto, palavra, carinho que realmente fazem a vida valer a pena.
Quanto a caixinha, que já faz parte das minhas relíquias sentimentais, decidi que esse ano ela vai servir como um baú das minhas relíquias. Cada momento bom desse ano vai pra caixinha, seja como um pedaço de papel, uma flor seca, ou um verso de amor.
Espero, sinceramente, que ela seja pequena. Tenho muito a melhorar em mim nesse caminho entre os 28 e os 29 mas tudo o que eu tenho de bom já tem seu lugar cativo na caixinha e em mim. Só espero que os bons momentos sejam tantos que eu precise de mais umas 3 caixinhas dessas pra juntar, que todos os que eu amo estejam sempre comigo e que cada dia eu consiga com que todos saibam o quanto eu sou grata por me encherem dessas relíquias, pedacinhos de amor que eu guardo como parte do que me faz feliz.

Amo-vos!!!
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PS: Por favor perdoem esse momento super meloso, juro que depois do dia 17 eu volto ao normal, que não é tão diferente assim, mas é bem menos clichê e que poupa vocês da overdose se açúcar que eu venho pondo nos posts. Perdoem...

O belo

quarta-feira, 5 de outubro de 2011


Tenho pensado muito em como damos importância a determinadas coisas.
Conversando com algumas amigas sobre pessoas, vi que a gente dá um enfoque todo especial a coisas que nem sempre são tão importante, ou são, mas pros outros.
O topo da lista é a beleza. O belo movimenta as pessoas. Se vemos algo que achamos belo somos , automaticamente atraídos por aquilo. Seja um quadro, uma cena cotidiana, uma pessoa, enfim, a beleza mobiliza.
Tenho dificuldade com a beleza. Tenho uma amiga que, se vê algo que ela julga belo, faz de tudo para ter. Uma vez vimos juntas um par de sapatos lindo, perfeito pra mim e do jeitinho que eu vinha procurando. Eu não quis comprar, estava muito caro e bemmm acima do meu orçamento, além do quê estávamos viajando, enfim, não tinha como comprar.
Acho que nunca a vi ser tão enfática como naquele dia. Ela simplesmente não entendia o motivo pelo qual eu não comprava o tal sapato.
Já eu, não entendia o motivo de tanto estardalhaço, era só um sapato bonito, eu tinha vários outros, alguns tão bonitos quanto, outros nem tanto, aquilo não era tão importante pra mim.
É isso que me assusta no belo. Toda a comoção que ele gera.
Quase sempre esquecemos que a beleza é muito relativa. Aquilo que prende a minha atenção pode não prender a da pessoa do meu lado.
Tem o dito popular que diz que “O feio bonito lhe parece”. Acho que é isso. Bonito mesmo é o que te faz bem, te engrandece de algum modo, soma pontos na sua evolução como gente.
Acho que a beleza é algo muito perigoso, mas não sou uma louca que ignora o que meus olhos apreendem. Só tento ver além.
Tá, eu sei, parece conversa mole, e é mesmo, mas não seria muito melhor se pudéssemos ir além dos estereótipos, ver além. Conheço algumas pessoas que eu acho muito bonitas e que são capazes de coisas impensáveis. Conheço muita gente que passaria longe da capa da Vogue e, no entanto tem tanto a nos dizer. Mas, sobretudo, conheço gente bonita, por todos os ângulos que se olhe, seja na capa que nos reveste e se apresenta como cartão de visitas para o mundo, seja naquilo que trazem em si. Essas pessoas nem sempre tem uma beleza extraordinária, às vezes tem, mas são as que fazem os dias mais iluminados.

No fundo tudo isso é só um ponto de vista meio torto mesmo e, sim, um pouco conversa mole. Vamos em frente!!!

Cantando a gente faz história


"Cantando agente inventa.

Inventa um romance, uma saudade, uma mentira...
Cantando a gente faz história.
Foi gritando que eu aprendi a cantar:sem nenhum pudor, sem pecado.
Canto pra espantar os demônios, pra juntar os amigos. Pra sentir o mundo, pra seduzir a vida."
Cazuza



Oi pessoas,
Eu costumo dizer que tenho uma memória musical.
Tudo e todos que me cercam eu costumo associar automaticamente a um som. Assim eu costumo sentir voltar sempre os bons momentos que tive quando ouço novamente a música.
Hoje, mais cedo, acompanhando uma corrente do Facebook eu ouvi a música de abertura de um dos meus desenhos animados favoritos e, automaticamente, revivi todos os momentos daquele ano em que eu voltei tão esbaforida, morta de ansiedade pra ver mais um episódio. Cada festinha, as paqueras da escola, os amigos, as viagens, tudo.
Ainda ontem eu falava sobre isso com uns amigos. Tenho vício por música e por redes sociais o que fêz com que em setembro publicasse algumas músicas no Facebook e, ao mesmo tempo,baixava no meu celular. Acho que saiu uma boa playlist. Seguem as músicas:

Lugares Proibidos - Helena Elís
Do lado de cá - Chimaruts
Quando amanhecer - Vanessa da Mata
Isso - Chico César
Primavera - Maria Betânia
Mais que isso - Ana Carolina

Pronto, final de outubro tem mais, e esse mês é especial, meu aniversário e o show de Adriana Calcanhoto, mas esse já é assunto pra um outro post...
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Em tempo: Caros 11 leitores que compõem minha dúzia de fieis compartilhadores desse espaço, esse é um post com dono, Léo Lino, companhia de altos papos no Face (e muita bobagem, claro!) e bonitão da vez. Favor não reparar e nem ter ciúmes, hahaha, já já voltaremos a nossa rotina normal. Promessa feita, promessa cumprida. Proximo assunto, escola de inglês Whatahell (Not, hahahahahaha).

O mal do século

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Essa semana uma amiga me disse que eu era da geração do mal do século do Romantismo. Admito, ela tem toda razão. Sou Dramática, exagerada, levo tudo muito a sério e fico neurótica com tudo. Só não sou tão erudita. Paciência, ninguém é perfeito, né???


Segue poema da época, Amor e medo, de Cassimiro de Abreu. Pronto, agora vocês podem dizer se parece comigo, kkkkk. Bjos








Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
— "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"


Como te enganas! meu amor, é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...

Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.

O véu da noite me atormenta em dores
A luz da aurora me enternece os seios,
E ao vento fresco do cair cias tardes,
Eu me estremece de cruéis receios.

É que esse vento que na várzea — ao longe,
Do colmo o fumo caprichoso ondeia,
Soprando um dia tornaria incêndio
A chama viva que teu riso ateia!

Ai! se abrasado crepitasse o cedro,
Cedendo ao raio que a tormenta envia:
Diz: — que seria da plantinha humilde,
Que à sombra dela tão feliz crescia?

A labareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho
E a pobre nunca reviver pudera.
Chovesse embora paternal orvalho!

Ai! se te visse no calor da sesta,
A mão tremente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas! ...

Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos — palpitante o seio!...

Ai! se eu te visse em languidez sublime,
Na face as rosas virginais do pejo,
Trêmula a fala, a protestar baixinho...
Vermelha a boca, soluçando um beijo!...

Diz: — que seria da pureza de anjo,
Das vestes alvas, do candor das asas?
Tu te queimaras, a pisar descalça,
Criança louca — sobre um chão de brasas!

No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem,
Vil, machucara com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!

Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço,
Anjo enlodado nos pauis da terra.

Depois... desperta no febril delírio,
— Olhos pisados — como um vão lamento,
Tu perguntaras: que é da minha coroa?...
Eu te diria: desfolhou-a o vento!...

Oh! não me chames coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo é que te adoro e muito!
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!...